Com essa calamidade que penalizou todo o Rio Grande do Sul, que trouxe grandes perdas para a sua população tanto em vidas quanto em bens, não só o comércio, mas a nossa indústria também foi afetada, o que fará uma grande diferença no PIB do Estado. “E já temos empresas que desistiram e não vão retomar as suas atividades. Então, estamos muito apreensivos, e precisamos de ajuda financeira e não somente a prorrogação de impostos.”
Com esse posicionamento, o presidente da Associação Sul-brasileira dos Distribuidores de Autopeças (Asdap), Henrique Steffen, falou durante a live realizada no dia 29 de maio com o tema “O papel do mercado de reposição de autopeças na reconstrução do Rio Grande do Sul”. O evento, uma iniciativa da Fraga Inteligência Automotiva, contou com a participação do seu CEO e da sua economista, Murilo Fraga e Ana Giglio; do presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Veículos e de Peças e Acessórios para Veículos do Rio Grande do Sul (Sincopeças-RS), Marco Antônio Machado, além de empresários da área como Rogério Colla, da Auto Pratense Distribuidora; e Lúcio Santin, da Toli Distribuidora. O encontro on-line foi conduzido por Hugo Mayson, da Fraga.
Steffen narrou a trajetória das etapas que sucederam as enchentes, desde o salvamento das pessoas até a fase de saques nas casas e nas empresas. “Depois veio o primeiro acesso às lojas e residências, para quem ainda tinha alguma coisa para restabelecer. Em seguida, surge a etapa da limpeza”, citou. O proprietário da Giros Peças falou da experiência na sua empresa, que também foi duramente afetada, onde a água atingiu 1,2 metro de altura. A firma está situada no Quarto Distrito, em Porto Alegre.
Perdas de estoque e prejuízos de empresas associadas
“É uma coisa inimaginável. Eu trabalho aqui nessa região há 38 anos e nem na calçada a água nunca chegou. Em torno de 30% do nosso estoque foi destruído. E é entulho que não acaba mais, um cenário de guerra nas ruas. Indescritível”, frisou. De acordo com o executivo essa é a situação de muitas companhias. “Só da nossa associação, 12 empresas tiveram enormes prejuízos, com perdas de estoque, pois dificilmente as peças serão utilizadas novamente, devido às condições de oxidação e corrosão.”
A transmissão iniciou com uma apresentação sobre a frota circulante do RS, que hoje conta com 4.573.788 veículos entre automóveis e comerciais leves, motocicletas, caminhões e ônibus. Destes, 2.505.675 localizados nos municípios atingidos pelas cheias. Estima-se que 269.929 foram afetados pelas enchentes. Conforme a Fraga, o nosso Estado agrega a quarta maior frota do Brasil.
Faturamento de R$ 2,66 bilhões nas áreas alagadas
A apresentação trouxe dados sobre o faturamento anual acumulado do setor de autopeças, baseando-se no ano de 2023. Só o varejo brasileiro faturou R$ 84,34 bilhões. Destes, R$ 5,74 bilhões são do Rio Grande do Sul. O faturamento anual nos municípios afetados representa R$ 2,92 bilhões, e nas áreas alagadas o valor chega a R$ 2,66 bilhões do montante gaúcho.
O estudo trouxe dados sobre as oficinas, que é o nicho que mais fatura dentro da cadeia automotiva. Em 2023, o valor do faturamento foi de R$ 105,43 bilhões no país, R$ 7,47 bilhões no RS, sendo R$ 3,80 bilhões em municípios afetados e R$ 3,48 bilhões em áreas alagadas.
Recuperação de oficinas precisa de R$ 455 milhões
Em relação à recuperação das oficinas, a estimativa é que seja necessário para a reconstrução de cada unidade o montante de R$ 115 mil, sendo 60% destinado a maquinários e ferramentas e 40% divididos entre reformas e equipamentos de escritório. O levantamento prevê a necessidade de R$ 455 milhões para colocar de pé as mecânicas novamente em todo o Estado. A estimativa é de que leve de três a dez meses para normalizar o faturamento mensal. E a nos ganhos será de R$ 68 milhões neste período.
Rombo de distribuidores e varejo é de R$ 380 milhões
O Rio Grande do Sul possui 935 empresas do ramo de distribuição e varejo de autopeças, que representam um faturamento agregado de R$ 3,55 bilhões, sendo deste R$ 2,36 bilhões nos municípios afetados e R$ 2,11 bilhões em áreas alagadas. O total de prejuízos previstos entre distribuidores e varejo é de R$ 380,99 milhões em estoque e R$ 1,14 bilhão em dias sem faturar.
Retomada econômica tem várias alternativas a seguir
O encontro on-line elencou algumas alternativas para a retomada econômica nos setores automotivos. E algumas delas já estão sendo aplicadas, como a suspensão/subsídios a pagamentos de juros e impostos, prorrogação de prazos de pagamento, aumentos de limites de financiamento, acesso rápido e facilitado ao crédito, perdão ou suspensão temporária do pagamento de dívidas, programas de manutenção de emprego e renda, antecipação de benefícios à população, antecipação de férias e disponibilização de teletrabalho.
Descarte consciente é outra preocupação pós-cheias
Junto às pautas levantadas na reunião, surgiu o descarte consciente de mercadorias danificadas. A sugestão dos participantes foi de as fábricas conversarem com seus distribuidores e lojistas afetados para o recolhimento de peças a fim de realizar análise para seleção do que está em condição de uso ou que foi danificado com destino ao descarte correto, buscando mitigar futuros impasses referentes a garantias. A orientação para os lojistas e distribuidores é não descartar mercadorias em lixo comum para que não caiam em mãos erradas como o comércio informal ou desmanches.
Repactuação das fábricas com seus canais de suprimento
O presidente do Sincopeças-RS indicou as ações da entidade neste momento. “Somos um gigantesco conglomerado de empresas, em sua maioria pequenas empresas, entre autopeças, motopeças, convertedores GNV, revendas de veículos usados, lojas de bicicletas e os colegas da ponta, a reparação, o que pode passar de 25 mil CNPJs”, comentou Machado.
“Nosso setor é reativo, e tentamos com todas as forças acompanhar a tecnologia e a manutenção da expertise humana, para continuar nutrindo uma frota cada vez mais complexa, os desafios como o right repair (direito de reparar) e o avanço da concessionária no nosso negócio. O momento é de repactuação nacional a partir das fábricas com seus canais de suprimento. Os nichos precisarão se interligar: fábricas, distribuidores, lojistas e reparadores. Não é possível ajudar todo mundo, mas todo mundo pode ajudar alguém.”