O Seminário da Reposição Automotiva, que aconteceu no dia 10 de outubro, abordou diversos temas como o futuro dos carros elétricos e a importância da capacitação dos profissionais da reparação. O encontro realizado na Fiesp, em São Paulo (SP), teve a presença da Associação Sul-brasileira de Distribuidores de Autopeças (Asdap), representada pelo seu presidente, Henrique Steffen. Outras entidades do setor também participaram, entre elas a Andap, Sicap, Sincopeças Brasil, Sindipeças e Sindirepa Brasil.
Foram debatidas questões como o movimento Right to Repair, no sentido de que o consumidor tenha livre escolha em relação ao local onde faz a manutenção de seu veículo. Para isso, é necessário que os mecânicos tenham acesso às informações técnicas das montadoras. Outro assunto da pauta foi a idade da frota e a necessidade da inspeção veicular.
O seminário também focou na evolução da eletrificação no mercado brasileiro, que deve ser bem mais lenta do que em outros países. Esta consideração leva em conta o uso do etanol, que é uma fonte renovável. Com isso, o Brasil ainda terá motores a combustão por 60 anos.
Rotas tecnológicas direcionadas à descarbonização
“Nosso país possui muitas oportunidades devido às matrizes energéticas, pois conta com todos os modais de energia limpa. Mas é preciso união do setor automotivo para somar esforços e desenvolver um projeto. Levar o país a um novo patamar tanto na indústria quanto no contexto da descarbonização”, salientou o presidente do Sindipeças, Claudio Sahad.
Segundo ele, há diversas rotas tecnológicas a serem seguidas para a descarbonização como a utilização de biocombustíveis como o bioetanol, biodiesel, diesel renovável/verde (HVO) e biogás/metano, além dos eletrificados e da célula a combustível. O Sindipeças entende que as diferentes tecnologias de propulsão se manterão por algum tempo.
Destaque na fabricação de motores a combustão
De acordo com Sahad, a China e a Europa não estão mais interessadas em produzir plataformas do Ciclo Otto e Diesel por razões de escala. Por outro lado, provavelmente até 2050, o Brasil e a Índia vão se destacar na fabricação de motores a combustão.
“O Brasil tem desafios na eletrificação como equivalência de produção, preço dos veículos, renda das famílias, infraestrutura para recarga e qualificação de mão de obra”, ressaltou o dirigente. “No entanto, o país tem competitividade para uso de veículos a combustão, utilizando combustíveis.”
Sobre as políticas públicas para o desenvolvimento da mobilidade sustentável, Sahad afirmou que as medidas direcionadas a implantação de veículos elétricos/híbridos devem contemplar a redução da burocracia para instalação de unidades fabris, linhas de financiamento para essa finalidade e para a qualificação da mão de obra local e atração de profissionais de forma que tenham know-how específico.
Para Sahad ainda há outros desafios estruturais para a competitividade da indústria automotiva. Ele citou a indústria 4.0, novos modelos de negócio, diversidade e flexibilidade nas empresas e integração competitiva às cadeias globais. Ele salientou que as empresas precisam estar inseridas em ambiente de negócios amigável e ter condições saudáveis para competir internacionalmente. Para isto, as reformas estruturais e a redução do custo Brasil têm papel decisivo.
Rede de distribuição estruturada com powerhouses
Já o presidente da Andap, Rodrigo Carneiro, enfatizou a força do mercado de reposição brasileira, que agrega uma rede de distribuição estruturada com powerhouses e a capacidade para atender 80% da frota circulante, estimada em 44 milhões de veículos. Carneiro também apontou a atuação do varejo com mais de 60 mil pontos de vendas e milhares de oficinas que empregam 1 milhão de mecânicos para atender 78 milhões de motoristas. “É um setor que movimenta R$ 100 bilhões para a economia, sendo o quarto maior mercado do mundo.”
Marcas como a Randon, Mahle, Bosch e Schaeffler estiveram à frente do painel da indústria. O grupo de empresários destacou as ações sobre inovações de cada companhia para atender a evolução da frota circulante de veículos híbridos e elétricos. Todos eles indicaram as atividades que promoveram treinamentos para mecânicos. As iniciativas visaram aprimorar e formar novos profissionais e habilitar os profissionais dos centros de inovação.
Capacitação técnica e de gestão para a reposição
O gestor de vendas, marketing e assistência técnica da Mahle Metal Leve, Evandro Tozati, aposta em levar conhecimento e capacitação técnica e de gestão ao setor de reposição para que as oficinas tenham sucesso. “A venda acontece quando o produto é aplicado”, especificou. “Sem reparador, não há reposição”, frisou. Tozati também mencionou que outro desafio da indústria é ter profissionais com mindset de demanda de mercado.
Apoio à certificação de competências profissionais
O presidente do Sindirepa Brasil, Antonio Fiola, fez uma recomendação sobre o caminho a ser trilhado: continuar investindo em treinamento e apoiar a certificação de competências profissionais que já está disponibilizada pelo IQA (Instituto da Qualidade Automotiva). “A certificação cria um estímulo para o reparador se atualizar e se aperfeiçoar”, comentou.
Fiola vê com otimismo o mercado da reparação já que 80% dos proprietários de veículos buscam a manutenção de seus carros em oficinas independentes. E, conforme o executivo, o parque de concessionárias, atualmente, não teria condições de atender 10% dos municípios brasileiros. “Além disso, a relação com o varejo de autopeças é muito boa e complementar às oficinas.”