Associação Sul-Brasileira
dos Distribuidores de Autopeças

Entre um dos segredos das empresas de sucesso estão a leitura do cenário econômico, colaboradores de visão e apostas ousadas. No atual momento, onde o mundo ainda luta contra uma pandemia, a tríade nunca foi tão importante. E foi justamente sobre esses três pontos que Ricardo Leptich, CEO da Osram no Brasil, conversou com os associados da Asdap em um encontro virtual descontraído, mas repleto de informação, na tarde desta quinta-feira (17).

Durante uma hora e meia, Ricardo falou sobre os desafios e conquistas da multinacional alemã que, a partir de uma decisão estratégica – e arriscada – conseguiu passar pelo auge da Covid no Brasil e América Latina sem grandes percalços e com uma grande conquista: sem demitir um funcionário sequer.

“Lá em fevereiro, quando a China estava fechada e o dólar ainda não havia disparado, decidimos reforçar nosso estoque e fizemos uma grande compra. Ficamos com o estoque lá em cima. A ideia era vender tudo entre abril e junho. Vendemos, mas as vendas começaram em junho, crescendo mesmo em julho. A gente não esperava que o Brasil seria tão atingido pela Covid como foi. No fim foi uma estratégia arriscada, mas que deu certo. Nos garantiu ter produto e preço neste momento e aumentar nossa participação no mercado”, afirma Ricardo.  E por que reforçar os estoques com o mundo retraindo as compras? “Nosso principal concorrente tem fábrica em Wuhan – cidade onde a pandemia começou”, explica. 

Reunião on-line com CEO da Osram e associados da Asdap

 

Assim como no mundo inteiro, a pandemia exigiu que a Osram reorganizasse os times para que o trabalho fosse feito de casa. Sem ter produção no Brasil desde 2016, Ricardo afirma que o homeoffice foi assertivo e com bons resultados, tanto que a empresa não pensa em ter trabalho 100% presencial após a pandemia. A ideia é trabalhar com times de horários híbridos. “Trazer o funcionário uma, duas vezes na semana. Temos pessoal que leva 2 horas para vir para o trabalho e outras duas para voltar. Hoje, ele (funcionário) está fazendo um curso de línguas, na academia. Coisas que não podia antes porque estava no trânsito. Por isso, acreditamos que é possível trabalhar de casa e render mais. Funcionário feliz produz mais”, destaca Ricardo, executivo que começou na Osram como officeboy, aos 16 anos. 

 

MERCADO EM REAÇÃO

Considerado essencial, o setor de reparação não teve que fechar as portas durante o auge da pandemia. Mas sofreu a reação em cascata dos demais setores, tendo o faturamento afetado. Na Osram, conforme conta Ricardo, a boa reserva atingida em 2019 permitiu que a queda de 2020 não levasse a empresa ao negativo. “Tivemos, como todas as empresas, faturamento afetado entre abril e junho. Em abril, tivemos queda de 75%. Mas maio dobramos o faturamento sobre abril com queda de 50%. Junho dobrou sobre maio e agora estamos bem, já quase superando setembro de 2019, olhando os dados preliminares.”

Na visão de Ricardo que, além de CEO da Osram no Brasil,  também responde pela América Latina, o mercado de reposição está reagindo bem no Brasil e também na Argentina. No México e Colômbia é de forma mais acanhada. “No Brasil, as regiões Sul e Sudeste recuperam mais rápido que no restante do País, mas acredito também que é em função da frota. O setor de motocicletas também está se destacando na pandemia devido ao aumento dos motoboys, o que reflete em todo o setor.” Na avaliação de Ricardo, as fábricas que direcionam produção às montadoras também encontram problemas.

Outro ponto afetado pela pandemia é distribuição de insumos. Alguns setores já enfrentam desabastecimento para a produção, o que reflete lá na ponta, no varejo. “Lâmpada para reposição não terá problemas porque os insumos são produzidos pela Osram. Já o mercado de leds e de chips, montadora, linha branca, podemos ter dificuldade porque entra na dificuldade de reposição de alguns fornecedores”, avalia.

Para encerrar a conversa, que durou 1h30, Ricardo falou sobre o mercado de led para veículos, que pode implicar no mercado de reposição. “Hoje, no Brasil, o percentual de veículos com led é muito pequeno, ficando em carros novos e que a Osram faz projeto personalizado, por exemplo. Para uma realidade de mercado, ainda vai alguns anos no Brasil, podem ficar despreocupados”, brincou.

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