O mercado de reposição automotivo brasileiro já se beneficiou de outras crises vividas recentemente, como as dos anos 2008 e 2014. Mas será que frente à pandemia de covid-19 terá também um bom desempenho? A fim de esclarecer essas questões e identificar o impacto deste período de restrições e confinamento nas vendas de peças de linha leve e comercial leve, a Asdap – Associação Sul-Brasileira dos Distribuidores de Autopeças convidou o diretor do Grupo Oficina Brasil, Cassio Hervé (foto acima), para participar de uma reunião online com seus associados e apresentar os resultados de uma pesquisa realizada pela CINAU – Central de Inteligência Automotiva, área de business intelligence do Grupo Oficina Brasil, em parceria com a Fraga Inteligência de Mercado.
O primeiro gráfico apresentado por Hervé e que, segundo ele, é o principal indicador do estudo desenvolvido é a evolução semanal do serviço. “Observem que, na semana de 22 a 28 de março, quando muitas oficinas foram fechadas por ordem e determinação do governo, houve um afundamento nos serviços. Porém, ao longo das semanas, começamos a observar uma recuperação”, indicou ele. Aplicando uma projeção estatística (linha pontilhada), é possível prever que os serviços voltem ao normal no final do mês de junho. “Esse gráfico corresponde a uma média nacional, mas a recuperação no Rio Grande do Sul tem sido até mais rápida do que isso”, afirmou Hervé.
Com participação de 800 a mil oficinas dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, que abrangem 64,5% da frota circulante estimada em 23,2 milhões de veículos, o levantamento buscou avaliar também a percepção dos donos de oficinas. Para isso, aplicou o mesmo questionário em duas ocasiões distintas, sendo a primeira delas entre os dias 4 e 6 de maio e a segunda entre 1º e 3 de junho.
Ao serem perguntados sobre a situação de sua oficina, a maioria (69% em maio e 70% em junho) disse estar funcionando normal, com as portas abertas. As outras opções de respostas eram: funcionando, com as portas fechadas e/ou hora marcada (26% em maio e 25% em junho); e oficina está fechada (5% tanto em maio quanto em junho).
Outra questão abordada foi a oferta de serviço de “leva e traz” aos clientes. A maior parte dos respondentes (65% em maio e 68% em junho) afirmou disponibilizar o serviço, enquanto 35% deles em maio e 32% em junho não. “Uns enfrentam a crise com mais coragem e proatividade, outros se encolhem muito nesse momento”, constatou Hervé. “Serviço tem, esses caras estão com bastante serviço, mas houve essa mudança de comportamento.”
Considerando o atual movimento de suas oficinas, os entrevistados foram perguntados quando estimavam que o serviço retornasse ao normal. Na primeira mensuração de maio, 77% achavam que isso ocorreria já no mês seguinte, ou seja, em junho. No início deste mês, porém, 47% previram essa retomada apenas para julho e outros 29% declararam não saber estimar.
Uma das principais dificuldades que se impõem em consequência das paralisações provocadas por essa pandemia é o desabastecimento de peças no mercado, o que já é sentido pela maior parte das oficinas mecânicas entrevistadas pela CINAU. Em maio, 34% dos fornecedores tradicionais das oficinas estavam fechados (em junho, esse índice caiu para 19%), o que obrigou as oficinas a recorrerem a outras alternativas, como a busca por outros fornecedores (58% tanto em maio quanto junho) e a compra de peças pela internet (16% em maio e 27% em junho). Houve ainda estabelecimentos que solicitaram ao dono do carro que conseguisse a peça a ser trocada (16% em maio e 12% em junho) e aqueles que simplesmente recusaram o serviço por falta de peça (10% em maio e 3% em junho).
Com relação aos fornecedores que não fecharam durante a pandemia, foi perguntado aos reparadores se está havendo falta ou indisponibilidade de peças e 41% respondeu que sim. “Vocês podem ver que está tendo algum problema de abastecimento que se reflete também no fornecedor que ficou aberto”, destacou Hervé.
O diretor do Grupo Oficina Brasil apresentou ainda o gráfico de evolução mensal, que compara o número de passagens médias por mês, reais e previstas, nas oficinas mecânicas de linha leve, através do qual é possível estimar que, até final de junho ou início de julho, a demanda por serviços mecânicos voltará ao patamar normal. “Dentro dessa mesma projeção, sintetizamos que a queda prevista para este ano da demanda de autopeças a partir da oficina está estimada em 8,85%”, concluiu Hervé. Segundo ele, esse modelo de estudo apresentado aos associados da Asdap é ajustado semanalmente e, quem tiver interesse em receber suas atualizações por e-mail, pode se cadastrar no site www.pulsodoaftermarket.com.br.