Além da séria ameaça que representa à saúde da população mundial, a Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, trará também impactos mercadológicos e econômicos que já são sentidos em diversos setores, e com o segmento de autopeças, motopeças e acessórios não é diferente. A fim de entender melhor o momento atual e trocar ideias e experiências sobre o assunto, a Asdap – Associação Sul-Brasileira dos Distribuidores de Autopeças convidou o diretor comercial do Mercado de Reposição das Empresas Randon, Paulo Gomes, para um bate-papo online com seus associados na última semana.
A primeira iniciativa da organização frente às restrições impostas pela pandemia, segundo Gomes, foi dar férias coletivas para toda equipe de trabalho. As atividades foram retomadas na última segunda-feira, dia 13, mas com apenas um quarto do quadro de colaboradores. “Estamos trabalhando com os três turnos de produção, ou seja, 24 horas, mas com apenas 25% do efetivo. Estamos pleiteando com o prefeito local para aumentar para 50% a partir dos próximos dias”, disse o executivo, referindo-se à cidade de Caxias do Sul, na Serra Gaúcha, sede das Empresas Randon.
“Retomamos, mas com muitos cuidados”, alertou Gomes. Hoje, todos os funcionários só podem circular na fábrica, em qualquer um dos departamentos, usando máscara, que é disponiblizada pela companhia. Além disso, há álcool para higienização disponível em todas as salas de reuniões, escritórios, restaurante e demais dependências. Os ônibus da empresa não operam com capacidade máxima, mas com apenas um passageiro por carreira de bancos. Ao chegar na fábrica, todos passam pela medição de temperatura. O executivo contou também que muitos colaboradores estão atuando em regime de home office. “A grande maioria da mão de obra administrativa está trabalhando de casa, muitos ainda estão de férias e alguns casos pontuais estão usando a flexibilização de dez dias de trabalho no mês”, comentou.
Como principais preocupações, Gomes apontou alguns sinais de inadimplência e de desabastecimento de produtos devido à ruptura na cadeia produtiva por conta de empresas que estão com dificuldade de caixa. Os resultados que, de acordo com ele, foram excelentes para a Randon em 2019, podem ficar comprometidos. “O ano de 2020 começou bem, com um primeiro trimestre muito bom. Infelizmente, veio essa pandemia que está assolando a todos. Estamos prevendo, para o mês de abril em diante, 50% de redução de receita e trabalhando com dois possíveis cenários: um moderado, de redução na faixa de 23% a 25%, e outro mais agressivo, de 45% a 50% de redução até o final do ano”, revelou. “O que nos favorece bastante é que a gente tem um viés exportador muito bom. Por exemplo, a Fras-le e a Fremax são empresas que exportam 50% da produção. Com o dólar atrativo como está, na faixa de R$ 5,20, isso nos dá um colchão interessante”, completou o executivo.
Se por um lado as exportações contribuem para o desempenho da companhia, por outro as empresas do grupo mais focadas no mercado de montadoras encontram-se mais acometidas pela pandemia. “As montadoras ainda estão fechadas, nenhuma voltou, algumas falam em reabrir somente em junho e isso nos assusta um pouco”, admitiu Gomes. “Percebemos um enfraquecimento da cadeia muito forte por conta deste momento que estamos vivendo. Ou seja, há muitas incertezas.”
Como aprendizado, o executivo lembrou que a Fras-le tem uma fábrica na China que ficou fechada por 40 dias e tem tido uma retomada muito boa. “O mês de abril está sendo excelente para nós. Vamos fechar com 150% da meta de vendas lá, porque o mercado voltou sedento por produtos e pedidos. Como o risco de desabastecimento é grande, aqueles que estiverem preparados para responder rápido ao mercado conseguirão bons resultados. Essa é a nossa aposta e estamos trabalhando para isso”, garantiu.
Gomes explicou ainda que tais resultados da fábrica na China são somente em função do mercado doméstico, já que, neste momento, a Europa está toda fechada. Embora alguns mercados do Leste Europeu estejam mais flexíveis, ainda é baixa a atividade. “Nossa expectativa é que, assim que passar essa crise no Brasil, o mercado retome rapidamente, tal como aconteceu na nossa fábrica na China”, destacou.
As áreas em que a Randon tem investido ainda mais, conforme o executivo, deixando a equipe 100% ativa, são as de inovação, pesquisa e desenvolvimento. “Acreditamos que esse é o momento da criatividade. Na crise, conseguimos nos reinventar, rever os processos, os produtos e os procedimentos, a fim de ganhar produtividade”, manifestou o diretor comercial do Mercado de Reposição das Empresas Randon, que gerencia atualmente 13 escritórios de vendas espalhados por todo País, responsáveis por monitorar de perto o mercado brasileiro de reposição. “Assim que os clientes vendem seus estoques, repõem seus pedidos aqui para nós. Percebemos que, aos pouquinhos, o mercado está retomando suas atividades”, concluiu.