A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) divulgou esta semana os bons resultados de 2019, apesar da forte queda das exportações para a Argentina, e os especialistas no setor explicam as razões disso, fundamentando também as projeções otimistas tanto para 2020 quanto para os próximos anos. “Não vemos a volta do mercado argentino no curto prazo, mas o cenário doméstico está muito favorável, principalmente pelas melhoras na economia”, justifica o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes. “E a partir de 2021, já poderemos contar com a retomada da Argentina”, completa a analista Isabel Tavares, da Tendências Consultoria.
A produção de veículos no Brasil em 2019 cresceu apenas 2,3% em relação ao ano anterior, chegando a 2,94 milhões, mesmo afetada pela queda de 31,9% das exportações para a Argentina, que é o maior comprador externo do setor automotivo brasileiro. As vendas, porém, foram de 2,66 milhões de veículos, o melhor resultado dos últimos cinco anos, 7,7% acima do resultado em 2018.
O economista Raphael Galante, da Oikonomia Consultoria Automotiva, explica que, fundamentalmente, dois fatores justificam esse crescimento tão expressivo no mercado interno: as vendas diretas, impulsionadas pela melhora gradual da economia e a leve retomada do emprego, e a expansão do crédito, a partir da significativa queda nas taxas de juros.
“Na venda direta, o mercado de veículos para pessoas com deficiência cresceu demais no ano passado. As montadoras viram que o nicho se tornou uma parte importante do seu negócio e estão tentando reposicionar seus veículos para atender a esse universo que vem crescendo. E outro nicho que ‘bombou’ foi o da compra de carros pelas locadoras. Elas foram às compras num ritmo insano”, diz Galante. “Essa demanda das locadoras se deve basicamente aos motoristas de carro de aluguel por aplicativos”, explica Rodrigo Nishida, da LCA Consultores.
Quanto ao crédito, Galante afirma que “ainda estamos esperando a informação anual consolidada do Banco Central, mas, até o fim de novembro, já sabemos, tivemos a concessão de mais de R$ 146 bilhões para a compra de veículos. Nunca se liberou tanto dinheiro para financiar carros. O consolidado do ano deverá encerrar com volume próximo a R$ 161 bilhões, o que dará um crescimento de 28% sobre o ano de 2018”, afirma ele. O melhor de tudo é que a perspectiva é de que o crédito continue em 2020 tão farto como foi em 2019, com a tendência de juros decrescente e a dilatação dos prazos de financiamentos.
A Anfavea projeta um crescimento de 7,3% na produção e de 9,4% nas vendas para 2020. Os números entusiasmam o setor, sinalizam uma recuperação cada vez mais consolidada, mas ainda estão longe dos recordes de produção (3,8 milhões de veículos em 2013) e de vendas (3 milhões em 2009), que, ao que tudo indica, se o ritmo continuar o mesmo, poderão ser alcançados em 2024.