Após quatro dias em que mais de 70 expositores e milhares de profissionais receberam, nos pavilhões da Fenac, em Novo Hamburgo (RS), um público 60% superior ao da primeira edição, em 2018, a Reparasul – Feira de Autopeças e Reparação Automotiva deste ano terminou no último sábado, dia 23, já anunciando a data da edição de 2020 e projetando um crescimento significativo na área comercializada. De olho no futuro, o consultor Flávio Portela falou, na Arena do Conhecimento Reparasul/AutoRede, sobre Tendências do Segmento da Reposição Automotiva.
“O mercado não para, mas ele muda, se transforma, e cada vez mais rápido. Quem não entender isso não vai sobreviver. É preciso se reinventar. Os tempos são de união, ninguém vai conseguir nada sozinho”, alertou Portela, citando a recente fusão, ainda em processo de liberação, da PSA (Peugeot e Citroën) com a FCA (Fiat, Chrysler, Alfa Romeo) para entrar na competição direta com os três maiores vendedores de automóveis do mundo: o grupo Renault, Nissan, Mitsubishi; a Volkswagen e a Toyota. “A General Motors (GM) está chegando agora com uma plataforma chinesa e projetando lucro já em janeiro. Estava trabalhando com prejuízo, mudou. E, olhem só, na China, 65% do mercado de reposição são das montadoras”, destacou.
Segundo Portela, em feiras como a Reparasul, no outro lado do mundo, as montadoras têm tido presença cada vez mais forte. No Brasil, elas ainda não costumam participar, mas se movimentam de outras formas para atingir esse mercado. Agora, por exemplo, estão fechando acordo com o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) para que os motoristas possam receber aviso de recall pelo aplicativo que dispõe a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) no celular. “Isso parece simples, mas, na verdade, depois que obtiverem esse acesso, estarão com o caminho aberto para saber tudo sobre o motorista: que carro tem, o que está fazendo, o que está comprando, etc. A partir daí, é só acenar para o cliente com o que ele está procurando. No mercado, vai ganhar quem chegar primeiro na informação e souber trabalhar essa vantagem competitiva”, sinalizou.
Flávio Portela falou, na Reparasul, sobre Tendências do Segmento da Reposição Automotiva
Outra tendência é o fim das facilidades para as locadoras de veículos, que hoje são responsáveis por metade das vendas de automóveis no País. A Toyota é apenas a primeira montadora que anunciou sua entrada nesse segmento, de forma a unir o útil ao agradável. Além de eliminar intermediários no negócio, vai se aproximar mais dos clientes, conhecê-los melhor, permitir “a degustação” de seus veículos e usufruir, por exemplo, da curiosidade que os carros híbridos e elétricos cada vez mais geram nos consumidores. A Nissan deve ser a próxima, e outras certamente farão o mesmo.
Nessa mesma linha de mudanças, já há tratativas no Congresso Nacional para liberar os proprietários de veículos da obrigatoriedade de fazer as revisões nas concessionárias. Assim, pode ser que brevemente as oficinas possam se qualificar para receber uma autorização de “carimbar o livrinho” nas revisões de qualquer veículo e assegurar a garantia de fábrica. Não é por acaso que o ambiente nas oficinas está mudando, com mais organização, limpeza e preocupação com o meio ambiente. As mulheres já são as principais compradoras de carros no varejo e as oficinas cheias de graxa e com fotografias de mulheres fixadas nas paredes ficaram no passado. Ou deveriam pelo menos.
A venda e a distribuição de autopeças também estão em transformação. “O filtro mais vendido pela GM hoje é o do Fiat Palio”, disse Portela para exemplificar que não há mais fidelidade de fabricantes e fornecedores. As lojas da Pirelli, não é novidade, vendem qualquer marca de pneu. “Qualquer um pode comprar de qualquer um e vender para qualquer um. Varejo e distribuidores já não precisam ter estoques. O importante é ter relacionamento, qualidade do produto e agilidade nos negócios. Por isso, as parcerias são cada vez mais importantes. Ninguém consegue fechar essa rede sozinho”, enfatizou mais uma vez o consultor.
Com base em todos esses dados e perspectivas é que a coordenadora da Reparasul, Angela Dias, espera renovar, já nos próximos 15 dias, o contrato de 70% dos expositores que estiveram na feira deste ano. E o diretor-presidente da Fenac, Marcio Jung, projeta um crescimento acima de 50% na área comercializada para a edição de 2020, marcada para os dias 18, 19, 20 e 21 de novembro do próximo ano.
Foto destaque: Diego Soares/Talenttare