A paixão e o orgulho que movem as gerações gaúchas fascinadas por automóveis antigos estão ganhando símbolos históricos que transformam o momento atual no ponto mais alto dessa comunidade tão nostálgica quanto romântica. Primeiro, em outubro, o governador Eduardo Leite sancionou a Lei 15.336, aprovada na Assembleia Legislativa semanas antes, que define a data de 16 de junho como o Dia do Antigomobilismo – neologismo que mistura antiguidade com automobilismo – no Rio Grande do Sul. Agora, em novembro, dois livros, com textos de Irineu Guarnier Filho e fotos de Eduardo Scaravaglione, foram lançados para contar grandes histórias desde que o primeiro automóvel chegou a Porto Alegre (RS), no início do século passado.
A comemoração do primeiro Dia do Antigomobilismo no Rio Grande do Sul será em 2020, mas as histórias já estão aí. “Os dois livros vêm sendo trabalhados há mais tempo e foi uma enorme coincidência terem ficado prontos simultaneamente”, explica Scaravaglione, que é o diretor de Eventos do Veteran Car Club do Brasil RS. “O Paixão Sobre Rodas é um livro que festeja os 40 anos do Veteran e traz as histórias desse tempo. E o Ferrugem no Sangue é uma coletânea de crônicas publicadas pelo Irineu ao longo do tempo, com fotos minhas, e algumas resgatadas e tratadas, contando histórias mais específicas, de carros inesquecíveis”, completa.
“Alguém sabe quando chegou o primeiro carro em Porto Alegre?”, arrisca o presidente do Veteran Car Club Brasil RS, Rodrigo Ruiz, para, logo depois, responder ele mesmo: “1906”. E o spoiler do livro se torna inevitável: “Era um carro fabricado na França. Chegou desmontado e acondicionado em quatro caixas. Não foi difícil montar, mas quem ia dirigir? Ninguém sabia. Aí localizaram um italiano, que estava preso, para ensinar”. Histórias como essa, e o fim da “mão inglesa” (direção no lado direito) em Porto Alegre, em 1929, estão nas páginas do Paixão sobre Rodas.
Já o Ferrugem no Sangue, que teve pré-lançamento na Feira do Livro de Porto Alegre no último sábado, dia 9, e será lançado oficialmente no próximo dia 6 de dezembro, durante a 16ª Feira de Espumantes, no Centro de Eventos do BarraShoppingSul, na capital gaúcha, vai mais direto ao motivo fundamental que faz o antigomobilismo se renovar continuadamente: as histórias de carros antigos que não saem da memória de quem viveu suas épocas.
“Antigomobilismo não é feito só de carros. É feito de pessoas, de emoções, de memórias. O carro é apenas o elemento que relembra uma experiência, traz de volta momentos da infância e adolescência ou uma imagem gostosa com o pai ou o avô”, observa Guarnier (à direita na foto, ao lado de Scaravaglione), para destacar que um Buick ou um Studebaker, em geral, tem o mesmo significado para quem viveu nos anos 1950 que o Monza, por exemplo, tem para quem foi jovem nos anos 1990. “Da mesma forma que daqui a 40 ou 50 anos é provável que haja colecionadores expondo e se orgulhando do primeiro carro elétrico ou do primeiro carro autônomo que chegou a Porto Alegre”, acredita.