Chegar em um posto de gasolina e ter o discernimento necessário para saber que tipo de cuidados o automóvel realmente precisa e do que está falando o frentista sempre solícito e com tantas ofertas de serviços não é tarefa fácil para a maioria dos motoristas. Na hora de trocar o óleo, escolher entre os diversos tipos de produtos, além de uma extensa variedade de filtros, também gera muitas dúvidas. Ir a uma oficina mecânica que não seja de confiança verificar um ruído estranho no veículo ou mesmo para saber o motivo de uma luz do painel permanecer acesa causa insegurança em qualquer condutor, não importa a idade. “Mas as mulheres se sentem ainda mais vulneráveis do que a média dos motoristas nessas horas”, afirma Elaine Rotert, consultora técnica do Grupo Autosul, que tem “60 anos de idade, há 48 trabalhando em oficinas de automóveis”, orgulha-se.
E foi justamente para atender mulheres interessadas em conhecer mais sobre seus automóveis que a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) fez uma parceria com o Grupo Autosul e criou, dentro do projeto EPTC Educa, a palestra Mulheres em Foco: Noções de Mecânica Básica. São de duas a três oportunidades por ano, dependendo de disponibilidade de agenda e demanda, para que grupos de 30 mulheres, de todas as idades, passem uma manhã de sábado ouvindo explicações teóricas e vivendo a prática de identificar e manejar itens como amortecedores, mancais, bicos injetores, filtros de ar e de óleo e uma série de outra peças e serviços.
Elaine Rotert (mais à frente) com as participantes do curso realizado no último sábado, dia 14
Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as mulheres já são atualmente 58% dos compradores de carros no País. Entre 2010 e 2015, o número de condutoras aumentou 30%. O Departamento de Trânsito do Rio Grande do Sul (DetranRS) informa que as mulheres condutoras no Estado são 34% – uma mulher para cada dois homens –, mas nos 53 acidentes de trânsito com morte registrados este ano no Rio Grande do Sul nenhuma mulher condutora esteve envolvida. “O conhecido rótulo de ‘carro de mulher’, que valoriza uma venda de veículo usado, está baseado nisso: as mulheres são mais cuidadosas com seus carros e menos violentas no trânsito cotidiano, tanto no tratamento com o carro, com acelerações e frenagens mais leves, quanto na relação com terceiros”, destaca Elaine.
O entusiasmo de ensinar combina muito com a vontade de aprender. A consultora técnica lembra que não sabia absolutamente nada quando entrou em uma oficina mecânica pela primeira vez, mas nunca se envergonhou de perguntar. Ela inicia os encontros dizendo às participantes que cada uma deve basear seu conhecimento na leitura (completa) do manual do seu veículo. Elaine explica o que é cada peça e a necessidade de cada serviço. Do coxim do amortecedor, passando pela bieleta e pelo retentor, até a diferença entre uma peça original, uma genuína e outra do “mercado paralelo”. Do calço hidráulico que pode acontecer nos alagamentos à geometria e balanceamento das rodas vítimas das ruas esburacadas. Nada fica de fora.
Entre uma e outra informação, sempre aparecem casos bem-humorados para ilustrar algumas situações. “Uma vez uma cliente veio de Campo Bom até Porto Alegre para saber porque uma luzinha no painel não parava de piscar nem quando ela desligava o carro”, conta Elaine, “mas era só o pisca-alerta, que ela certamente tinha acionado involuntariamente e não sabia para que servia”, diverte-se.