O mercado de reposição automotivo brasileiro está crescendo a uma taxa anual composta de 4% a 6% e é provável que ultrapasse os R$ 120 bilhões até 2022. Para falar sobre as perspectivas desse segmento e apresentar em detalhes o estudo desenvolvido em 2018 pela empresa McKinsey & Company, em parceria com fornecedores, distribuidores, varejistas, aplicadores e reparadores, cujas associações compõem o GMA – Grupo de Manutenção Automotiva, a Asdap – Associação Sul-Brasileira dos Distribuidores de Autopeças trouxe de São Paulo (SP), especialmente para sua reunião de associados, o empresário Bernardo Ferreira, sócio da McKinsey.
“Para falar em tendências de médio e longo prazos, separamos quatro pontos baseados em tecnologia disruptiva para mobilidade que estão tomando forma no mundo todo e, as que ainda não chegaram, mais cedo ou mais tarde, chegarão também ao Brasil”, explicou Ferreira. “São a conectividade, a mobilidade compartilhada, os veículos elétricos e os veículos autônomos”, completou ele, enfatizando que essas quatro tendências impactarão o mercado de reposição automotivo brasileiro em velocidades diferentes.
Automóveis de uma mesma marca conectados entre si e em contato direto com a montadora são uma realidade no exterior e, embora não façam parte do cenário atual brasileiro, o estudo mostra que a conectividade e a mobilidade compartilhada já estão, na sua essência, bem presentes no País. Os players do mercado de reposição só precisam adaptar suas ofertas de serviços para a frota de veículos e empresários desse setor. De acordo com o relatório do estudo, as mudanças não são drásticas, pois a arquitetura e as peças dos veículos permaneceram idênticas nas últimas décadas.
Quanto aos carros elétricos, a previsão é que as mudanças significativas para o mercado de reposição não sejam percebidas no Brasil em menos de dez ou 15 anos, mas os players desse segmento já podem ir se programando para atender a demanda futura por baterias e componentes de motores elétricos. “Os carros elétricos gastam menos pastilhas de freios, por exemplo, porque a energia volta para o sistema. A durabilidade do motor é maior, quebra menos e as baterias gigantes são bem específicas. Todas essas coisas precisam ser pensadas, equacionadas e planejadas para que ninguém seja pego de surpresa quando chegar a hora”, alertou Ferreira (foto à direita).
As discussões sobre poluição ainda são uma incógnita no mundo todo. Os elétricos não poluem menos que os motores brasileiros abastecidos por etanol, mas as vantagens nesse sentido sobre os motores movidos a gasolina, nos Estados Unidos principalmente, são significativas. E na China, onde estão 50% dos carros elétricos existentes atualmente no mundo, a energia é produzida a partir do carvão, considerada uma das piores fontes de poluição.
O principal desafio, porém, entre essas tendências para o mercado de reposição automotivo está nos carros autônomos. Eles também estão bastante distantes da realidade brasileira, até porque a indústria nacional tem seus interesses e não deixará de defendê-los por muito tempo, mas, quando chegarem, trarão uma série de mudanças transformadoras. Além de eliminarem empregos de motoristas, ao serem guiados pela máquina, gastam menos combustível e exigem menos reparos, porque não colidem em outros veículos e garantem vida útil maior às peças pelo uso correto de todos os equipamentos.
“Sem falar que nos lugares por onde circulam, os autônomos estão ampliando a discussão dos problemas gerados pelo menor número de acidentes de trânsito. O faturamento de hospitais e prontos-socorros está caindo muito e levando a um encolhimento da estrutura. Além disso, as filas de doações de órgãos pararam de andar, pois 90% dos órgãos doados são de pessoas acidentadas no trânsito”, constatou Ferreira.
* Acompanhe, na próxima semana, a matéria sobre a avaliação dos novos cenários e o impacto futuro no mercado de reposição automotivo brasileiro.