Quem tem automóvel e nunca viveu esta indecisão? Hoje, seja qual for a escolha, há cuidados básicos que exigem muita atenção. A diferença entre um e outro, que já foi grande no passado, atualmente vem diminuindo e, terminando a vinculação contratual da manutenção à garantia do veículo, tende a dar ampla liberdade para o consumidor em um futuro breve. Quem garante é Alexandre Ruga, diretor de uma concessionária em Porto Alegre (RS) e diretor do Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios no Estado do Rio Grande do Sul (Sindirepa-RS), entidade que reúne os milhares de mecânicos independentes do Estado. “O importante é o consumidor e a qualidade do serviço”, resume ele.
Geralmente, os proprietários de veículos zero quilômetro no Brasil ainda voltam automaticamente à concessionária no prazo máximo de um ano após a compra para fazer a revisão dos 10 mil quilômetros, assim como, depois, fazem nos 20 mil e nos 30 mil quilômetros, porque a garantia no contrato de venda está condicionada a isso. Mas, a partir de então, a grande maioria dos proprietários fica em dúvida: de agora em diante, continuo levando na concessionária para fazer a manutenção do carro usado ou deixo para aquele mecânico de confiança, que sempre cuidou tão bem do automóvel do pai e do avô?
“Já existe no âmbito do legislativo brasileiro, tanto na Câmara Federal quanto em algumas assembleias, discussões sobre projetos de lei que querem extinguir essa vinculação da garantia ao serviço de manutenção feito na concessionária. Essa obrigatoriedade é do tempo em que não existia o Código do Consumidor. O importante, me parece, é vincular a garantia à especificação correta do produto e à técnica de execução do serviço”, explica Ruga.
As concessionárias ainda pagam por erros do passado, “quando realmente tinham preços abusivos”, reconhece Ruga, porque ninguém se preocupava com o pós-venda, não havia um regramento legal e os proprietários de veículos não tinham um mínimo de orientação. Assim, era confiar cegamente no mecânico conhecido ou apelar para o respeito à grife da concessionária mais próxima e pagar a diferença. “Atualmente, o consumidor tem todas as informações e, desde a compra do carro, já sabe como e quando deverá fazer a manutenção. Basta entrar no site da montadora, a qualquer momento, e saberá tudo: a peça mais apropriada, o tipo de óleo, a média de vida útil de cada item… Isso alinhou os preços das concessionárias”, diz o executivo.
Ruga alerta, porém, para um detalhe: sempre haverá alguma diferença de preço, principalmente na comparação entre diferentes regiões. O preço da mão de obra varia, as alíquotas de impostos nem sempre são as mesmas e a logística também influi. “A evolução da tecnologia, o aumento da eletrônica embarcada e a velocidade com que isso vem acontecendo exigem uma mão de obra cada vez mais qualificada e atualizada. Isso pode fazer diferença, sim, na hora da comparação, mas não quer dizer que o serviço na concessionária seja necessariamente melhor do que o do mecânico independente”, esclarece.
Nesse mercado de oficinas automotivas, não há quem não saiba, em Porto Alegre, o que foi a Eletro Auto Enio, que fechou suas portas há mais de uma década, mas continua sendo referência na reparação de automóveis. Enio Guido Raupp, hoje com 84 anos, já não tem mais a oficina, mas lidera as mais de dez mil oficinas independentes do Estado como presidente do Sindirepa-RS, entidade que nasceu em 1948 como uma associação, se transformou em sindicato em 1951 e, até a virada do século, representava inclusive as concessionárias. “Posteriormente, as concessionárias criaram o Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos no Estado do Rio Grande do Sul (Sincodiv-RS), presidido atualmente pelo ex-piloto Fernando Esbróglio, mas continuamos nos dando muito bem e tratando de interesses comuns em parceria”, conta Raupp, que prefere não comentar as vantagens e desvantagens de cada um nesse dia a dia da reparação de veículos.