Clóvis de Moraes pilotou bicicletas, karts e os mais diversos tipos de automóveis de competição. Tornou-se o maior vencedor na história do esporte individual do Rio Grande do Sul e um dos maiores do Brasil. Nunca conseguiu contabilizar com exatidão o número de troféus conquistados. Sempre preparou seus motores e, depois que parou de pilotar, ainda foi o responsável pela preparação de alguns carros campeões. Hoje, aos 80 anos, não hesita quando perguntado se gostava mais de pilotar ou preparar motores. “O que eu mais gostei, com certeza, foi de pilotar bicicleta. O esforço físico combinado com a inteligência emocional, a estratégia de saber quando e como usar a força, sempre me ensinaram muito e me deram muito prazer”, garante.
Clóvis (E) com a equipe de ciclismo do Clube de Regatas Almirante Barroso
No livro Das pistas para a história, lançado recentemente pelo engenheiro mecânico Leandro Sanco, Clóvis afirma que a prova mais marcante na sua carreira foi a inauguração do Velódromo do Ibirapuera, em São Paulo (SP), em 1954, quando ele, com 16 anos, perdeu o campeonato brasileiro de ciclismo por meia roda. “Aquela derrota me ensinou muito. Nunca mais esqueci de detalhes sobre preparação, estratégia, controle e atenção, que foram muito úteis ao longo da minha carreira”, justifica ele, apontando para a fotografia em que recebe a premiação do engenheiro italiano Luís Moschetti, que veio ao Brasil como representante da Fiat e, depois, destacou-se pela Fábrica de Papel em Porto Alegre (RS), apoiadora das ações sociais da esposa Lígia Moschetti, fundadora do Instituto Santa Luzia. “Ele foi campeão mundial de ciclismo”, enfatiza com admiração.
Na ordem cronológica, depois do ciclismo, dos ciclomotores e das lambretas, veio o kart. Clóvis de Moraes foi duas vezes campeão gaúcho e três vezes campeão brasileiro entre 1965 e 1969. Ele foi também o primeiro piloto brasileiro a disputar um campeonato mundial de kart, em 1968 (há exatamente meio século), na Suíça. E com um kart construído por ele mesmo. O ciclo dos automóveis começou com a Fórmula Ford em 1971.
Clóvis não tem dúvida sobre o melhor carro que preparou em sua trajetória: foi o de Artur Bragantini, campeão invicto da Fórmula Ford em 1980. Porém, entre as centenas de troféus cuidadosamente dispostos no pavilhão que mantém no bairro Navegantes, na capital gaúcha, e o famoso Kart 22, que fica suspenso no ambiente central, ele deixa sua taça mais importante – com o selo Texaco – no ponto mais alto. Ainda assim, garante que o troféu mais querido é a pequena tacinha que veio do ciclismo.
Sobre a extensa e vitoriosa carreira muito bem contada em sete páginas do livro de Leandro Sanco, Clóvis acrescenta um esclarecimento curioso: o apelido Mandrake, designado pelo parceiro e amigo Cezar “Bocão” Pegoraro nos anos 1960, era uma combinação da semelhança física (formato do rosto e o bigodinho que ele usava na época) com o mágico famoso das histórias em quadrinhos e as “magias” que ele fazia com os motores que preparava, fazendo-os sempre campeões.