O setor de autopeças brasileiro perde cerca de R$ 3 bilhões a cada ano com o contrabando e a falsificação, de acordo com a Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF). Só fica atrás da pirataria com cigarros. São perdas relacionadas ao faturamento das empresas e à arrecadação tributária. Lâmpadas, velas, anéis, rolamentos, cabos de ignição e até para-brisas estão entre os itens mais falsificados e contrabandeados. “Estimo que em torno de 30% do mercado brasileiro esteja dominado pelas peças falsificadas e contrabandeadas”, declarou recentemente à revista Reparação Automotiva Rodolpho Heck Ramazzini, diretor de Comunicação da ABCF.
“Esse é um prejuízo que atinge principalmente as oficinas independentes, hoje responsáveis por 80% dos serviços de reparação de veículos no Brasil”, avalia Cassio Hervé, diretor do grupo Oficina Brasil, que estuda o mercado nacional de aftermarket há mais de 25 anos. Somada à prisão periódica de cargas e quadrilhas especializadas, a ABCF está sempre pronta para receber denúncias e colaborar com o trabalho da polícia, mas diagnostica que a principal dificuldade para combater a ilegalidade no setor de autopeças é que somente algumas empresas têm consciência do tamanho do problema e fazem um trabalho em conjunto com a entidade.
Hervé reconhece que o problema na indústria é grande e recorrente, e identifica alguns detalhes: a pirataria cresce como alternativa rápida, e mais em conta, na reposição de peças, setor onde normalmente não há pronta-entrega. Segundo a ABCF, a maior parte – cerca de 60% – dos produtos ilegais entra no País pelo Paraguai ou vem direto da China. O restante das peças falsificadas é fabricado ou finalizado dentro do Brasil mesmo. “Muitas vezes, o dono de um veículo não consegue avaliar se a peça é original ou copiada, mas o profissional do setor geralmente sabe”, garante Ramazzini. A impressão da marca em um filtro de óleo ou o alinhamento das especificações em um disco de embreagem são de fácil identificação para quem tem um mínimo de conhecimento, sem falar que as falsificações de lâmpadas costumam ser muito grosseiras.
O macrocontrole, porém, não é nada fácil de ser realizado. O Brasil tem 16 mil quilômetros de fronteira com países vizinhos e apenas 24 postos de fiscalização para cuidar dessa área. Nos portos, do Pará até o Rio Grande do Sul, não chega a 3 mil o número de agentes da Receita Federal para fazer o desembaraço de contêineres. Além disso, de Guaíra, no norte do Paraná, até Mundo Novo, no Mato Grosso do Sul, são 400 quilômetros de fronteira seca com o Paraguai. Enquanto peças contrabandeadas chegam pelos portos, principalmente da China, outras tantas chegam por contêineres com guias subfaturadas. Nesse caso, explica Ramazzini, elas seguem para o Paraná, para a região de Londrina e Maringá, que é o maior polo de falsificação de autopeças do Brasil, onde são gravadas, embaladas e despachadas para o resto do País.